CUMPRINDO UMA PROMESSA EM SALVADOR

Tivemos riquíssimas horas num só dia em Salvador, nessa segunda e já lhe mostrei parte delas, mas ainda tem coisas muito interessantes para lhe mostrar.
A amiga Nina me pediu que fizesse uma matéria sobre o poeta baiano Castro Alves, de quem ela é fã. Nina fica deslumbrada com a ideia de uma pessoa deixar uma obra tão rica, mesmo tendo falecido aos 24 anos.
A amiga museóloga Heloisa Costa me deu a dica: o IGHB-Instituto Geográfico e Histórico da Bahia é a melhor fonte. Até vi a distância até a Fazenda Cabaceiras, onde ele nasceu em 1847 e eu já lá estive, mas é longe. Realmente, não precisa andar tanto para saber sobre ele. 
Mírian e eu chegamos na biblioteca do Instituto onde se pode pesquisar tudo sobre a Bahia e mesmo sobre o Brasil.
A partir daí, gozamos de um baita privilégio, de termos a competente e simpática museóloga Rita Chaves, curadora de todo esse acervo, para nos acompanhar. 
Muita coisa aqui também de outro não menos famoso o brilhante jurista, político, diplomata, escritor, filólogo, jornalista, tradutor e orador Ruy Barbosa, que se destacou como   um dos intelectuais mais conhecidos do seu tempo e coautor da constituição da  Primeira República, juntamente com Prudente de Moraes, o terceiro Presidente da nova República.. Ruy também atuou na defesa do abolicionismo e na promoção dos direitos e garantias individuais.
Ele e Castro Alves são contemporâneos, sendo Ruy Barbosa dois anos mais velho e viveu até os 74 anos. Castro Alves morreu precocemente de tuberculose.
Vamos andar pelos diversos espaços.
Nessa sala e em outra anexa estão todas as publicações dos principais jornais da capital desde muitos anos.
Dá medo de pesquisar, pela idade dos papeis. A Tarde, Correio da Bahia...
Subindo.
Todo o acervo foi fruto de doações para o IGHB, ao longo de seus 129 anos de fundação. 
A partir de fotos, pintura de senhores poderosos da época, a história vai sendo registrada.
E também de mulheres que, certamente, foram apenas esposas dos poderosos. No século XIX ainda não havia espaços para elas.
Essa é a imagem do poeta que a gente tem na memória .
Desenhos da família de Castro Alves.
A mãe Clélia Brasília da Silva Castro, o pai, o médico e professor  de Medicina Antônio José Alves e os irmãos José Antônio, que morreu jovem, acometido por loucura, Guilherme, que também foi poeta, e a irmã Adelaide. Abaixo, fotos diversas do poeta.

Veja a linha do tempo de Castro Alves.
Essa fofoca a Museóloga Rita nos revelou. Castro Alves teve paixão por essa mulher, Eugênia, bem  mais velha que ele e era artista e cantora. Com ela "viveu maritalmente", usando uma linguagem da época. Antes disso ele teve as mulheres Teresa e Idalina. Num vídeo que vou postar ela vai falar a respeito. Caramba! Eu com 70 só consegui ter uma.
Mírian achou interessante essa mesa.
Nela Castro Alves escreveu muitos poemas.


Dois mineiros estão expostos na galeria. O nosso herói Tiradentes...
E Alberto Santos Dumont.
Um relógio que marca as horas pela posição do sol.
Essa jarra  era da casa de Castro Alves.
.
Mexas de seu cabelo, doadas que foram pela sua irmã ao IGHB, pouco depois de sua fundação.
A Ode ao Dois de Julho, escrito a próprio punho.
Era no dous de julho. A pugna imensa
Travara-se nos cerros da Bahia...
O anjo da morte pálido cosia
Uma vasta mortalha em Pirajá.
"Neste lençol tão largo, tão extenso,
"Como um pedaço roto do infinito...
O mundo perguntava erguendo um grito.
O Dois de Julho para os baianos tem o mesmo grau de importância do 21 de abril para os mineiros. Sete de setembro é a data da independência do Brasil, em 1822. De fato, os portugueses somente deixaram as terras brasileiras 10 meses depois, em 2 de julho de 1823, graças a heróis como: Joana Angélica/ Maria Quitéria/ Maria Felipa/João das Botas/Frei Brayner e os Encourados de Pedrão/Corneteiro Lopes/Tambor Soledade/Cacique Bartolomeu Jacaré...
Nesse auditório acontece palestras e encontros de intelectuais e estudantes. Nessa noite haverá a posse da nova diretoria da Academia de Letras de Salvador. Uma pena não podermos estar presentes.
D. Pedro II merece todo o respeito do povo brasileiro. Ele e sua família Bragança foram expulsos do país para um exílio. Veja como se deu isso:
"Acordado, o Imperador foi informado que deveria se vestir para embarcar. Surpreso e revoltado, disse "que não sairia como um negro fugido...". Mas, por volta das três da manhã, foi escoltado juntamente com a Imperatriz e toda a família, além de alguns amigos, para o Cais Pharoux, bem atrás do Paço Imperial, hoje Praça XV. Somente um coche negro puxado por dois cavalos estava à disposição, onde foram os imperadores e a princesa Isabel; os demais seguiram a pé. Uma lancha do Arsenal de Guerra, tripulada por quatro alunos da Escola Militar, aguardava-os, sendo transportados para o pequeno cruzador Parnaíba, apelidado de "gazela do mar", fundeado na Baía da Guanabara, próximo à Ilha Fiscal."
Alguém poderia pensar numa reparação dessa maldade.
Uma senhora com absoluta aparência masculina. A gente precisa refletir muito sobre essa questão de transgênero.
Curiosas essas cadeiras conjugadas e presas uma à outra. Rita nos explicou que além de facilitar a conversa a três, os namorados nelas se sentavam e uma terceira pessoa ficava vigiando, segurando uma vela para clarear. Daí a expressão "segurando vela".
Essa bacia é muito grande, embora não dê para perceber na foto e a água era difícl de chegar até à casa. A foto abaixo mostra um escravo fazendo isso. Rita acredita que uma mesma água poderia servir à várias pessoas. Eca!
Uma escarradeira muito chique. Depois de cheia o resultado era jogado pela janela. Outro eca!
Aqui três urnas funerárias com restos mortais de Theodoro Sampaio, ex-presidente do IGHB entre 1922-1937 do Visconbde da Cayrú, Sabino Vieira e Estácio de Lima.
Uma metralhadora, possivelmente usada na I Guerra Mundial.
Observe o tamanho das chaves.
Aqui um rádio.
Um aparelho que mostra o sistema solar muito sofisticado para a época.
A ilustre museóloga mesmo precisando cuidar dos preparativos para a posse, no entanto, nos deu a maior atenção.
   Já na rua, registrando mais essa maravilha.
Foi muito rica a nossa visita e vamos postar um vídeo com uma entrevista com a museóloga Rita.
Encerro com Navio Negreiro, certamente o mais conhecido dos poemas de Castro Alves
Senhor Deus dos desgraçados!
Dizei-me vós, Senhor Deus!
Se é loucura... se é verdade
Tanto horror perante os céus?!
Ó mar, por que não apagas
Co'a esponja de tuas vagas
De teu manto este borrão?...
Astros! noites! tempestades!
Rolai das imensidades!
Varrei os mares, tufão!
Não posso deixar de registrar uma coisa triste em relação a Salvador. A violência por aqui está fora de controle. Nessa região, na Avenida Sete, bem como na maioria dos lugares, todos recomendam para não ficar fotografando, pois o celular pode ser roubado.
O nosso tagarela  ministro da Justiça precisa se juntar aos governadores, diretamente responsáveis pela segurança nas cidades, e juntos enfrentarem isso.
É isso que você queria, D. Nina?

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