QUE ENCONTRO ALEGRE!!!
Foi nessa terça, mais um encontro do Projeto Mente Ativa, do GAB, de nº 108, que teve como tema: RELEMBRANDO FIGURAS FOLCLÓRICAS QUE TAMBÉM FIZERAM A NOSSA HISTÓRIA.
O objetivo foi do grupo trazer à memória pessoas que por aqui passaram, deixando marcas pelos seus comportamentos engraçados, exóticos, através de gestos, expressões, vestimentas, e que alegraram muitos ou atemorizaram outros.
O clima foi de carnaval.
O compadre Tuti foi convidado especial, juntamente com Paulino Balbino. É que eles sabem, muito das histórias desse distrito. Juntando com Manezim Silva, Landis Rosa e o restante da turma, a tarde foi extremamente produtiva.
Na verdade, isso veio a partir de um zap que recebi de Nahor Costa, lá de BH, o proprietário das terras da Cachoeira do Nahor. Ele saiu de Belisário, mas Belisário não saiu dele. Nahor me falou que nas comemorações de carnaval e dos 160 anos de Belisário, seria interessante resgatar figuras que por aqui passaram e me deu sugestão de algumas delas.
A partir desses nomes muitas histórias foram surgindo e outros nomes aparecendo.
Um lanche caprichadíssimo. Eles trouxeram muitas coisas.
E quem foram essas figuras folclóricas que também fizeram a história de Belisário? O texto é grande, mas...
1. Rita Fragata:
Andava com roupas curtinhas, pernas grossas, sempre carregando uma sombrinha. Morava na SSV de Paula. Andava com a cara sempre lambuzada de batom vermelho.
Naquela época esse colorido se fazia com papel de seda úmido, que era esfregado no rosto e lábios. Não se usava batom nem ruge. Ela costumava se desentender com a vizinhança e já foi vítima de covardia.
Landis Rosa se lembrou que em certa ocasião ela andava montada numa égua, debaixo de muita chuva e a sombrinha aberta. A égua desequilibrou e a jogou dentro do rio e só se via uma sombrinha descendo a correnteza. Foi salva pela Vicente Pedra, irmão da Maria, presente nesse encontro.
2. Gardinim
Não tinha nenhum estudo mas falava bonito e gostava de mostrar-se sabichão. Um dia ele foi pego lendo um jornal virado de cabeça pra baixo. Alguém o advertiu e ele logo retrucou. "Eu já li o jornal e agora estou relendo".
Era benzedor. Uma pessoa com dor de cabeça ele benzia colocando um copo de água fria sobre a cabeça dessa pessoa. Estendia as mãos na direção do copo e a água fervia. E agora? Verdade ou mentira? Ninguém fez vídeo com celular, já que nem telefone fixo existia.
Paulino lembrou que ele pedia alguma coisa de alguém, que lhe exigia em troca que imitasse trem de ferro. Gardinim saía apitando pela rua.
Fazia mágicas inclusive uma jogando 3 caroços de milho na boca. Mastigava e cuspia na mão o milho mastigado. Tornava a jogar na boca e voltava a cuspir os 3 caroços inteiros.
3. Bastião Cego
Era outra figura pitoresca de Belisário. Muito magrinho gostava de se apresentar rodando um pau para as pessoas. Um dia Helvécio foi puxando esse pau do pobre Bastião e estavam perto do rio. Ele caiu na água e quase morreu.
Outra dele era que não aceitava água limpa para beber. Somente água suja.
Manezim lembrou que Bastião Cego não largava uma "quiçamba", que é um balaio de alça (SERIA O MARIO GALO)
4. Mário Galo
Na sua época homem só usava camisa branca. Alguém comprou para ele, na venda do Sr. Waldemar, um corte de tecido vermelho, com a condição dele sair na rua com a camisa.
Um dia ele foi cobrado por não ter usado a tal camisa e ele retrucou: " Usei sim. Só que saí na rua de madrugada e não tinha ninguém".
Mário Galo encomendava almas, rezava pelas pessoas... Matava muito porco e falava que fazia isso riscando um pau de fósforo no focinho do animal que logo morria. Como benzedor que era, andava pela rua carregando uma caixa de marimbondos e os bichos não lhe picavam.
Era muito bem humorado e falou certa vez que viria a Belisário nem a pé e nem a cavalo. Certo dia aqui apareceu montado num animalzinho bem baixinho, com uma perna sobre o animal e a outra no chão. Cumpriu o que prometeu. Nem a pé e nem a cavalo. Muito habilidoso, fazia engenhocas e balaios de taquara.
Tinha a mania de imitar bichos: galo, cachorro...Um dia, na venda do Sr. Josias, apertou por trás o tornozelo do Zé Vidal, latindo como um cachorro. O coitado levou uma surra de velho do Zé Vidal pela brincadeira que ele não gostou.
5. Bastião do Álvaro
Era um cara bonito, um verdadeiro galã e um grande fazedor de selas de cavalos, irmão da D. Paquita, mãe de Zezinho Percínio. Certo dia, Chico Laia, que aqui morava, de família grande e muito pobre morreu. Muita tristeza em seu enterro. Em certa altura do velório Bastião Álvaro falou em voz alta: " Oh pessoa boa! Um crioulo muito bão! Mas, como pedreiro, ele era uma grande merda!". Claro que Chico Laia não pode retrucar.
6. Toninho do Álvaro
Era irmão do Bastião e uma figura muito engraçada. Aqui na escola fazia músicas de improviso. Angelina Coelho até cantou uma de suas músicas, que ele fez para a coordenadora da escola. Seu talento o levou a participar do Programa do Chacrinha, informou Beatriz.
7. Rosa do Saturnino
Também chamada de Rosa Beijoqueira. Naquela época não era comum dar beijinhos quando se cumprimentava uma pessoa, mas ela não abria mão disso. Eram beijos sem maldade. Tuti lembrou que ela tinha uma mania de cumprimentar as pessoas dando três apertinhos na mão. Isso era a sua marca.
8. Sr. Goza
Um baixinho muito gozador. Um dia um sujeito estava procurando a sua mula, que havia se perdido. Logo topou com o Sr. Goza e o perguntou: "O senhor viu a minha mula queimada? Ele logo respondeu: " vi um monte de cinzas lá no alto da estrada. deve ser a sua mula queimada". Muito prosa, trabalhava para o Manezim, mas logo o avisava: "Manezim, não me traga café. Isso que você faz é água de batata".
Um dia D. fulana estava dando café para alguém e ele falou: "Você tem coragem de beber café de água suja?" A mulher não gostou e reagiu. Ele disse "água suja de café".
Beatriz falou que quando alguém vinha lhe pedir voto ele cortava reto. "não voto em você! Meu voto é para fulano!". Esse era sincero.
9. Zé Luzia
Era carnavalesco e sempre saía na mulinha. Ele morreu no Paraná, com mais de 100 anos. O grupo lembra com saudade das mulinhas de carnaval e também do Zé Pereira, feito de balaio. Certo dia. o Diógenes Calais estava vestindo um Zé Pereira e caiu de cima da ponte. Foi um sufoco para salvá-lo.
10. Sr. Ataliba
Homem muito religioso que tem muito a ver com a construção da Igreja de S. Luzia. Um grande artesão, Ataliba fazia presépios. Certa época, estava pedindo ajuda para a obra da referida igreja e foi no Landis Rosa com esse argumento: "Landis: quantos metros de ladrilho você vai dar? O luiz Coelho, um cara ferrado financeiramente, aleijado e cheio de problemas, deu 1 metro. E você, vai dar quantos?". A resposta veio logo: " não vou dar nada. Esse cara nessa situação deu um metro, qualquer coisa que eu der você vai achar pouco".
11. Manuel Januário
Era tio de Manezim. Ele fazia o correio, pegando correspondências em Muriaé e ia a pé levá-las até Rosário da Limeira, que não era cidade. Era homem religioso e zeloso com as coisas certas. Um dia soube que um certo cidadão, que era casado aqui, arrumou uma segunda mulher e pretendia com ela se casar escondido, lá em Miradouro. Januário baixou a pé até aquela cidade e fez a denúncia ao padre, no dia do casamento, que não aconteceu.
Ele era um grande escritor. O compadre Tuti me mostrou um livreto que ele fez, tipo literatura de cordel.
12. Nenem Amâncio
Esse convidava pessoas para almoçar com ele. Se aproximava do cara, dava-lhe uma porrada no ombro e quando esse ia reagir, ele logo falava: " venha almoçar na minha casa comigo".
A sua mulher cozinhava muito mal, com pouco sal e ele revezava serviços com Paulino Balbino. Um dia trabalhava na propriedade de Paulino, que oferecia para ele o almoço. No dia seguinte, dia de trabalhar na propriedade do Nenem, Paulino enchia o bucho em casa cedo, para não ter de encarar a comida de sua mulher.
Nenem Amâncio tomava conta da propriedade de Taninho. De sacanagem, certo dia o Sr. Miguel Mota passou por lá e falou com Nenem que Taninho mandou que ele lhe entregasse um cabrito de bom tamanho.
Levou um cabritaço e Miguel Mota fez uma cabritada e ainda convidou Taninho para comer com ele.
13. Joaquim 38
Morava na Serra e uma vez alguém ia comprar amendoim no comércio e ele logo interferiu: "gasta dinheiro com amendoim nada! Tem muito lá em casa. Vá lá amanhã e almoce um frango comigo". O sujeito não comprou e montou num cavalo, no dia seguinte, para o tal almoço. Chegando lá Joaquim nem em casa estava e a sua mulher falou que lá nem tinha amendoim e nem um pintinho sequer no terreiro. No dia seguinte, Joaquim se encontrou com o amigo e ainda lhe deu bronca: " eu fiquei esperando você para o almoço e você não apareceu."
14. Argimiro Camilo
Era um grande pescador de traíras e a sua característica era falar demais. Se alguém com pressa parasse em sua frente, estava perdido. Certo dia alguém passava pela sua janela e ele começou a prosear. O sujeito percebeu que ele emendava um assunto no outro e fechava os olhos, parecendo cochilar. Saiu de fininho e Argemiro continuou a prosa, sem ouvinte.
15. Argimiro Silva
Ele pediu à sua mulher que quando morresse queria uma garrafinha de cachaça no seu caixão. Quando isso aconteceu ela foi procurar Paulino, e lhe pediu a pinga. Ela molhou a boca do defunto com a "marvada" e colocou a garrafinha ao lado de seu corpo, para ele subir bebendo.
Seu irmão, Agiba, era muito folgado e fazia questão de assumir isso: " eu sou folgado mesmo, aqui e em qualquer lugar do Brasil".
15. Gilberto
A sua característica era a de gostar de dar notícias pra todo mundo. Em tempos de dificuldade de comunicação, ele saía daqui, mesmo tendo problemas de uma corcunda, e ia até Ervália para falar com alguém da família, se tivesse algum doente ou falecimento aqui em Belisário . Não gostava de trabalhar, mas era muito prestativo.
16. Joãozinho Doido
Andava pra todo lado com um saco nas costas. A meninada morria de medo dele. Ia a pé de Belisário a Campinas-SP.
17. Clorinda
Uma velhinha baixinha, brava como uma onça e todo mundo tinha medo dela. Andava com uma saia lá nos pés e chinelinho.
18. Antônio Euzébio
Era primo de D. Leontina e bebia umas cachaças retadas. Certa vez a sua avó morreu e ele cismou que a haviam enterrada numa cova muito rasa. Procurou o Sr. Olinto Vidal, que era delegado aqui, numa época em que se nomeava uma pessoa da comunidade para exercer esse cargo, e queria que ele autorizasse a remoção do corpo. O Sr. Vidal se recusou a dar essa ordem e ouviu do Antônio o seguinte: " o senhor é delegado de merda e não manda porcaria nenhuma aqui". Sr. Olindo respondeu: " desenterrar a sua vó eu não posso, mas mandar prender você por desacato eu posso". Claro que ele ficou quietinho.
19. Manoel Mestre
Ele era poeta e pedia esmola fazendo versos como " o pouco com Deus é muito. O muito sem Deus nada vale, o pouco que Deus me deu, eu trago na mão fechada"
20. Castelinho e Zé Oliveira
Entraram certa vez na venda do Sr. Lacerda, pai de Tuti e tamparam numa briga. Quebraram muita coisa e o dono não interferiu. Deixou o pau rolar. Acabada a briga o proprietário apresentou a conta de tudo o que consumiram e do que quebraram. Falou que iria mandar consertar a balança e iria cobrar deles também.
O pequeno Castelinho, que tinha problemas de locomoção, pulou nas costas do Zé Oliveira e ambos subiram a rua fazendo a maior farra, isso depois de terem saído na porrada.
21. Maria Mulata
Essa eu conheci, pois faleceu em julho de 2020 e a comunidade assumiu a responsabilidade sobre seu filho Antônio, que hoje mora no Lar Osanan, em Muriaé. Ela tinha uma aparência folclórica, sempre com uma touquinha na cabeça, parecendo uma boneca de pano, sentada na calçada, pedindo pão aos que passavam, com o seu filho, que como a mãe tinha problemas de entendimento, embora já sendo adulto. Alguns estudantes morriam de medo dela, mesmo sendo ela inofensiva. Kely, Agente de Saúde, quando precisava tirar bichos de pé nela, levava pão para ela concordar.
Muitos desses casos ocorreram na década de 70.
Muitas lembranças 👏👏👏
ResponderExcluirMuitos desses eu me lembro
ResponderExcluir