PESSOAS ESPECIAIS III
Saí com o amigo Luiz Carlos, nessa quinta, pela manhã. Tomamos a direção do "Comércio", o antigo centro comercial de Salvador. Ainda há muita coisa por aqui, mas o PIB da cidade caminhou para a área do Iguatemi. Sede dos bancos, das grandes empresas, escritório de comércio exterior...
Muitos prédio majestosos e ainda bem conservados. Aqui a Associação Comercial da Bahia, fundada em 1811, visando o desenvolvimento à época, do maior porto do
hemisfério sul, já aberto, desde 1808 às "nações amigas"; por decisão
do Príncipe Regente, D. João VI, que pretendia promover o progresso da Colônia,
sede provisória da Corte Portuguesa.
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O nosso destino era aqui: Comunidade da Trindade, um dos projetos sociais mais lindos que conheci e junto do qual pude caminhar um pouco de perto nos meus tempos de Fundação 2 de Julho.
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Sobre o templo da antiga Igreja da Trindade a gente tira pelo google:
"A Igreja do século 18, localizada na Água de Meninos está
praticamente em ruínas, mas o local é habitado por uma comunidade pobre.
Em 1733, foi arrendado um terreno para a construção de uma capela sob a invocação de N. S. do Rosário e
Santíssima Trindade. Esse templo foi erguido na ladeira que dá acesso a Água de
Meninos."
Para se ter uma ideia, a Igreja do Bonfim foi construída 3 anos depois
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Essa outra foto eu tirei da internet.
Mas se esse templo é rico, mais rico ainda você vai ver agora. A beleza do projeto que aqui foi organizado em agosto de 2000, quando : " As portas da igreja da Trindade foram reabertas, para o louvor da doce Trindade e para o acolhimento do povo da rua." |
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Nessa época a Diocese de Salvador autorizou a ocupação do templo, que estava em ruínas, por moradores de rua. Aqui eles são acolhidos e alguns deles recebem uma casa para morar, caso venha a constituir família.
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Estamos aguardando a chegada do responsável por tudo isso, admirando trabalhos manuais feitos pelos membros da Comunidade.
Em matérias anteriores falamos sobre "pessoas especiais" duas vezes. Em Conselheiro Lafaiete e aqui em Salvador. Vamos ver um outro exemplo. |
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E aí está ele: Frei Henrique Peregrino. Tínhamos um bom relacionamento, através das caminhadas ecumênicas aqui em Salvador e me aproximei mais quando ele foi indicado para receber, pela Fundação 2 de Julho, o Prêmio Jaime Wright de Direitos Humanos.
Ao ler essa matéria, ele não vai gostar do que vou falar, pela sua humildade, mas nunca vi uma pessoa que mais se identifique com Jesus, como Frei Henrique.
Veja esse resumo sobre ele e sua comunidade:
"As portas da Igreja da Trindade foram reabertas no dia 11 de
agosto de 2000 para dar lugar à futura Comunidade da Trindade - tudo começou a
partir de uma ideia do Sr. Henrique Peregrino. Frei Henrique, como é conhecido,
desde a sua mocidade, na França, decidiu desfazer-se de sua condição de
abastança para peregrinar em favor de um chamado, de uma missão para qual
sentia-se responsável e/ou designado, entretanto, não sabia bem do que se
tratava, nem como iria cumpri-la. Depois de percorrer os quatro continentes
pregando princípios cristãos, instalou-se nas Ruas de Salvador nelas
permanecendo por mais de 20 anos (Praça da Piedade). Escreveu um livro
intitulado “Peregrinando ao Encontro da Trindade”. Quando Henrique avistou a
abandonada Igreja da Santíssima Trindade e dos Oprimidos, ele se deu conta de
que a sua missão estava prestes a se iniciar, teve uma espécie de “insight
messiânico”. O contexto sócio-histórico e político da capital baiana da época
era o da ideia de higienização das ruas, iniciada nas primeiras décadas do
século XX em algumas capitais brasileiras."
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O amigo Luiz Carlos, também voluntário da Pastoral da Sobriedade, foi comigo. |
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Segundo o Frei a Comunidade está atualmente com 40 membros, todos oriundos da rua. Mas essa noite outros 40 foram recolhidos das ruas, para aqui receberem um banho, uma janta e um teto.
Aqui também tem a oportunidade de momentos de orações e orientações
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A maioria dorme dentro do templo. Como dizia a sua antiga colaboradora Lúcia, que hoje coordena o movimento dos moradores de rua ao nível nacional, essa Comunidade tem um privilégio de poucos no mundo: dormir na Casa de Deus.
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Uma cozinha para "alimentar os famintos", como recomenda Jesus. |
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Aqui é produzido o jornal Aurora da Rua. Taís, à dir., coordena esse trabalho. Socorro é uma das distribuidores. Os membros da Comunidade escreve as matérias e vendem a 1 real. Esse era o preço que eu ainda morava aqui. Um detalhe: os membros são orientados a nunca receberem gorjeta, mesmo que as pessoas insistam para que fiquem com o troco. Nesse caso, eles devem dar mais jornais para quem comprou, até completar o valor da gorjeta. "Eles não são pedintes", explica o Frei. |
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Alguns recolhem material reciclável. Tudo gera renda para a Comunidade. Nada é de ninguém. Tudo é de todos.
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Se me deixarem fico a noite toda falando desse santo homem e de seu projeto de vida. Duas curiosidades a mais sobre ele: Se alguém liga de uma empresa dizendo que eles ou seus empregados querem fazer doação para a instituição, ele informa que, de fato, são muito carentes e querem receber de bom grado mas alega que também são carentes de amor. Dessa forma, pede que as pessoas venham primeiro conhecer a Comunidade, para depois fazerem a doação.
Um segundo detalhe sobre Frei Henrique: como foi dito acima, em 1978 ele veio da França, onde tinha uma vida financeiramente tranquila e onde cursou Filosofia. Durante 20 anos morou NA RUA com os demais moradores de rua, pregando para eles os princípios cristãos. Por um bom tempo, após criar a Comunidade da Trindade, o "conselho" de membros que gerencia o grupo aplicava a penalidade de fazer dormir no papelão, e fora do templo, aquele que chegasse embriagado ou drogado. Com um detalhe: Frei Henrique também dormiria na rua, junto com aquele que recebeu a punição. Dessa forma quem assim agisse seria punido e puniria Frei Henrique junto.
Não há mais nada a cometar depois disso, quer dizer: há muito mais.
Veja: http://igrejadatrindade.blogspot.com.br/
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