A MENSAGEM DA BENGALA
Eu não tenho medo da minha morte, mas devo confessar que ela mexe comigo, principalmente quando se trata de gente amiga ou que faz/fez sentido na minha vida.
Na postagem anterior, por exemplo, lamentei a morte de "Magro". Quase meia noite e estou aqui, decidindo a minha ida na cremação de seu corpo, amanhã cedo, aqui em São Paulo. Com o GPS certamente que dá prá chegar lá. O cara nem me conhecia, mas a sua partida mexeu comigo.
A morte nos submete a reflexões quanto à fragilidade da vida e isso me leva a postar a reflexão abaixo.
"As pessoas colecionam de tudo nesta vida. Selos, canetas, moedas, pedras, flâmulas, carrinhos, etc. Eu coleciono bengalas. Acredita? Dizem que cada louco tem sua mania, não é mesmo? Pois é, não sou louco, mas coleciono bengalas. Tenho quase vinte bengalas num cesto, enfeitando minha sala de TV. Engraçado que isso começou com uma brincadeira. Há mais de 25 anos, andava eu e minha mulher num recanto do meu ex-sítio, em Ibitiruna, ao lado de uma capoeira, quando ela viu um cipó que se havia quebrado e novo gralho havia crescido em ângulo reto com o galho antigo. Ela me disse olhe, parece uma bengala! Olhei, e decidi cortar de um lado e de outro e lá estava uma perfeita bengala natural, inclusive com a parte de apoio para a mão. Lixei, envernizei e é hoje uma relíquia em casa. Daí por diante, fui adquirindo umas, ganhando outras e lá está a minha coleção. Todos que a vêm acham engraçado. Bem, o que foi fruto de um acaso e uma brincadeira com o tempo me trouxe uma grande lição. Certo dia estava sentado nessa sala e olhei para as bengalas, em especial a minha relíquia. Nesse instante, senti uma espécie de comunicação dela para mim, como que a dizer: “olha, você que se julga forte, saudável, autossuficiente, lembre-se que pode precisar de muitas pessoas, inclusive de mim”. Então pensei comigo, é verdade, a vida vai passando e eu que sempre quis ter as rédeas de minha vida nas próprias mãos, recebia dela, a bengala, a mensagem de que não sou nada e posso sim dela precisar algum dia, simbolizando que também preciso e precisarei, todos os dias, de muitas pessoas que comigo convivem. Na Bíblia tem uma expressão que diz que se os homens não falarem (do amor de Deus) as pedras clamarão. No meu caso, foi a bengala que me trouxe a mensagem de sabedoria e reflexão para a minha vida. Espero que você, meu caro leitor, não precise da mensagem de uma bengala, ou de uma pedra ou coisa parecida, para valorizar os fecundos valores que dão verdadeiro sentido à nossa curta e frágil vida."
Doutor Davi Ferreira Barros
Professor aposentado
Ex-Reitor da Universidade Metodista de Piracicaba- UNIMEP
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