O CASTELO, A CARTEIRA PERDIDA E OS CAVALEIROS DO RESGATE.

Tão logo deram a carteira por perdida, Miriam me enviou mensagem. Parecia que a viagem terminava em tom menor com a perda de cartões passíveis de mau uso por golpistas e outros documentos complicados de serem novamente obtidos. Que decepcionante! Depois de tanta coisa boa e bonita, chegar em casa num fim de tarde de crista caída...
Durou pouco o travo na boca. À noite, a notícia boa da recuperação da carteira intacta.  Parecia até parábola bíblica, sei lá, daquelas da mulher que varre a casa e acha uma valiosa moeda perdida, chama as vizinhas e dá uma baita festa.  Junto com a boa nova me chegou a incumbência de ir no dia seguinte a Itaipava pegar este tesouro resgatado.  Quem já perdeu documentos neste país da burocracia estatal sabe do que estou falando.


Lá fui eu pela bonita e bem cuidada estrada que leva a Juiz de Fora, a BR-040, tantas vezes percorrida não somente para visitar meus pais que naquela cidade terminaram seus dias, mas também para passar muitas férias gostosas no Hotel Fazenda Morro Grande, em Simão Pereira, junto com a família.
 
Fiquei surpresa ao ver a antiga e abandonada edificação que sempre provocava gritos de “olha o castelinho, olha o castelinho!” por parte da meninada dentro do carro quando ali passávamos na estrada.  Imponente e reformado, como já mostrado aqui no Blog.  Uma entrada exclusiva a partir da BR, amplo estacionamento, restaurantes e parquinho para a meninada brincar. 
Cheguei no Restaurante Taberna do Castelo.

 Uma maravilha.
Mas eu não estava ali para passear, vai ficar para quando a família estiver aqui.  A filha hoje com 49 anos vai se espantar com o castelinho da sua infância e os netos certamente gostarão do imponente Castelo de Itaipava.  Agora a missão era pegar o tesouro resgatado por dois cavaleiros do castelo, a carteira com seus documentos preciosos.
Perguntei por Fernando e fui apresentada ao belo jovem que havia feito o contato com o Cleber.  Ele está à esquerda na foto e me disse que não era um herói solitário, pois na hora em que o tesouro foi achado em cima da mesa do restaurante, com ele estava o Paulo, o outro sorridente cavaleiro que está à direita.
Poucos minutos de prosa para descobrir que o Fernando tem 25 anos e é mineiro, de Itaobim, lá no Vale do Jequitinhonha.  Mora a uns 10 anos em Itaipava, é casado e tem uma filhinha de 6 anos, além de ser um palmeirense doente, como ele mesmo se descreveu.  Trabalha como garçom desde os 16 anos e gosta muito do que faz.  Seu companheiro de boa ação, o Paulo, é daqui da região, mora no bairro Cascatinha em Petrópolis. Também é sangue bom: seus pais são mineiros.  Trabalha há quatro anos no empreendimento do castelo, tem 30 anos, é casado, também tem uma menininha de 5 anos.  Ambos afirmaram gostar do seu trabalho com o público e se descreveram como pessoas felizes.
Certamente que são felizes.  São gente daquela estirpe que constitui a maioria da população brasileira:  pessoas honestas.  A minoria corrupta faz muito barulho por ocupar as páginas dos jornais e as telas da TV.  Mas a discreta gente trabalhadora do nosso imenso país ganha seu pão com honestidade, esforço e sacrifício, que esperamos ser menor algum dia.  Gente que dorme com a consciência em paz e que pode olhar nos olhos, sorrindo por detrás da máscara, como eles me olharam ao devolver a carteira com tudo dentro.  Felizes por fazerem o bem.
Sim, este foi um final feliz para esta linda viagem que acompanhamos cheios de vontade de ir juntos.  Mais que um fecho de novela ou de contos de fadas, parece o de uma fábula de Esopo.  A moral da história é: há esperança enquanto houver gente honesta e feliz por fazer o bem como Francisco e Paulo, os Cavaleiros do Castelo de Itaipava.

 

Matéria de Célia Paradela

 

 

 

 


 

Comentários

  1. Nossa, que susto levei eu ! Ainda bem que o caso teve um final super feliz e agora é só agradecer aos "nobres" do Castelo de Itaipava. Que Deus os recompense !

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  2. Que bençāo poder conhecer e valorizar a honestidade de pessoas como essas!
    Lenir

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