NAQUELA MESA ESTÃO FALTANDO ELES
Quem acompanha MPB há tempos curte a música de Sérgio Bittencourt homenageando o pai, Jacó do Bandolim.
Naquela mesa ele sentava sempre
E me dizia sempre, o que é viver melhor.
Naquela mesa ele contava histórias,
Que hoje na memória eu guardo e sei de cor.
Naquela mesa ele juntava gente
E contava contente o que fez de manhã.
E nos seus olhos era tanto brilho,
Que mais que seu filho, eu fiquei seu fã.
Àquela família restou uma mesa, uma casa, um jardim... para relembrar a memória do pai e eu tentei nessa quinta, em JF, pegar algo que também me remetesse ao passado com meus pais, na última morada de ambos, no Bairro Santa Luzia.
Mirian e eu fomos tentar. A casa foi transformada em uma loja de materiais de construção.
O bonitinho e arrumadinho quintal recebeu construções, virou estacionamento e depósito de material. |
Apenas vestígios do banheiro. |
A cozinha conserva o piso, o revestimento das paredes, a pia.... |
O banheiro de uma suite também deixou desgastadas peças hidráulicas como lembrança. |
Luciano e Vera, também vizinhos do outro lado da rua e grandes amigos que fomos visitar. Também foram encontreiros nos movimentos de casais da I. Metodista Central. |
Eu não sabia que doía tanto
Uma mesa no canto, uma casa e um jardim.
Se eu soubesse o quanto doi a vida,
Essa dor tão doída não doía assim.
Agora resta uma mesa na sala
E hoje ninguém mais fala no seu bandolim.
Naquela mesa tá faltando ele
E a saudade dele tá doendo em mim.
Sobre essa matéria a irmã Célia teceu o seguinte comentário:
"Tudo passa rapidamente e nós voamos", assim a Bíblia
descreve nossa breve passagem pela terra. Este hoje depósito de material de
construção nunca apagará da memória de todos nós o que vivemos naquele espaço.
O carinho com que éramos recebidos ao chegar de viagem para ver nossos
pais, a mesa da cozinha sempre com alguma coisa gostosa e uma garrafa de café
(e a geladeira atrás para complementar o lanche); o Zorro na porta da cozinha
nos olhando com olhos melosos, abanando sua cauda e esperando a hora de também
fazer sua "festa" de recepção; Papai sentado no sofá da sala com um
livro nas mãos (na maioria das vezes a Bíblia), mamãe sempre (mas sempre mesmo)
sorridente e cheia de casos para contar.
Em algum momento do sábado passavam por lá a Tia Nininha, o Tio Josué
(talvez para levar papai no carro para algum culto). Talvez ainda passassem
também o Tio Joaquim e a Tia Íris. Irmãos da igreja, vizinhos, conhecidos de
tanto lugares, era um constante entra e sai naquela Casa sempre de porta
aberta, porta da cozinha (com uma folhinha dependurada atrás onde mamãe
registrava os aniversários) para todos já entrarem direto na intimidade, no
acolhimento daquela casa que só fechava na hora de dormir.
Ao nos despedirmos na tarde do domingo para voltar ao Rio, o caminho
obrigatório fazia o carro ir à frente, retornar e passar na pista oposta à da
casa. Invariavelmente, na janela estavam os dois: mamãe o colocava em pé e bem
firmado ao peitoril, para nos acenar em um adeus que era o até breve, até à
próxima vinda de vocês à casa tão querida.
A desfiguração do imóvel agora tão feio pela improvisada adaptação para
ser o depósito de uma loja não apagará a Casa que ainda ali está, presente na emoção, no coração
e na memória. Deixo um poema do nosso conterrâneo mineiro, Carlos Drummond de
Andrade:
MEMÓRIA
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
Linda homenagem. Muito legal mesmo, parabéns.
ResponderExcluirÉ meu amigo. A saudade bate forte em nossos corações com o martelo da lembrança. E a única coisa que ameniza é levantar a cabeça e olhar pra frente. Pois só tocando em frente esquecemos um pouco da dor da saudade. Abraço
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ResponderExcluir"Tudo passa rapidamente e nós voamos", assim a Bíblia descreve nossa breve passagem pela terra. Este hoje depósito de material de construção nunca apagará da memória de todos nós o que vivemos naquele espaço.
O carinho com que éramos recebidos ao chegar de viagem para ver nossos pais, a mesa da cozinha sempre com alguma coisa gostosa e uma garrafa de café (e a geladeira atrás para complementar o lanche); o Zorro na porta da cozinha nos olhando com olhos melosos, abanando sua cauda e esperando a hora de também fazer sua "festa" de recepção; Papai sentado no sofá da sala com um livro nas mãos (na maioria das vezes a Bíblia), mamãe sempre (mas sempre mesmo) sorridente e cheia de casos para contar.
Em algum momento do sábado passavam por lá a Tia Nininha, o Tio Josué (talvez para levar papai no carro para algum culto). Talvez ainda passassem também o Tio Joaquim e a Tia Íris. Irmãos da igreja, vizinhos, conhecidos de tanto lugares, era um constante entra e sai naquela Casa sempre de porta aberta, porta da cozinha (com uma folhinha dependurada atrás onde mamãe r4egistrava os aniversários) para todos já entrarem direto na intimidade, no acolhimento daquela casa que só fechava na hora de dormir.
Ao nos despedirmos na tarde do domingo para voltar ao Rio, o caminho obrigatório fazia o carro ir à frente, retornar e passar na pista oposta à da casa. Invariavelmente, na janela estavam os dois: mamãe o colocava em pé e bem firmado ao peitoril, para nos acenar em um adeus que era o até breve, até à próxima vinda de vocês à casa tão querida.
A desfiguração do imóvel agora tão feio pela improvisada adaptação para ser loja não apagará a Casa que ainda ali está, presente na emoção, no coração e na memória. Deixo um poema do nosso conterrâneo mineiro, Carlos Drummond de Andrade:
MEMÓRIA
Carlos Drummond de Andrade
Amar o perdido
deixa confundido
este coração.
Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.
As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.
Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.
¨
ResponderExcluirHá coisas que em francês, sem substituto, se diz melhor: ¨Tout pass, tout casse¨, tout lasse...
Et tout se remplace¨ ( é isso: ¨tudo passa, tudo quebra, nada perdura, tudo se substitui" ). A rima em francês parece expressar melhor esse sentimento de vazio que as perdas nos causam na vida. Quem não o experimenta? Muito filosófica e delicada essa sua matéria, Cléber. Amei !
Parabéns pela coragem de levamtar a cortina do passado! Eu prefiro relembrar a casa como ela era, com papai e mamãe, amigos e parentes, muitos dos quais também já partiram. São como um filme gravado em neu coração, não quero ver outro cenário.
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