A MORTE PODE REVELAR SURPRESAS

Recebemos nesse sábado um zap de Júlia, coordenadora do CRAS-Belisário, comunicando  a morte de Reinaldo, de quem eu pouco sabia.
Ele tinha apenas 42 anos.
Era ele portador de sérios problemas psiquiátricos, sempre sentado aqui na praça perto de minha casa e eu o chamava de "Rei".
Extremamente calado, entrava sempre no GAB e eu lhe dava algum lanche, puxava conversa mas ele pouco interagia.
Conhecia seu pai, Sr. José Sérgio, com quem ele morava, aqui no "banheiro".
Há 30 dias vi o pai debaixo de chuva, perto da UBS e o levei em casa para pegar documentos para o filho, que estava na UBS para ser removido para Muriaé.
Levei-o de volta e lá vi "Rei" saindo numa cadeira de rodas, me despedi dele e as suas notícias foram piorando.
Sofreu um AVC no Hospital São Paulo, várias pedras em órgãos e ontem veio a óbito.
Fui no seu enterro, onde aconteceu um culto evangélico, sob a direção do Pastor José Carlos, religião de sua família e lá conheci seus dois irmãos, Terezinha e Roberto, ambos ao meu lado. O outro, é marido de Terezinha.
Aí muita coisa me foi revelada. Eles são aqui de Beli, tendo saído para SP já há muitos anos. Foram moradores da Comunidade Santa Lúcia, na propriedade de Aloísio Rogério.
Todos estudaram na EE Pedro Vicente de Freitas, no início dos anos 90, na época em que Rita Braga  era diretora. 
Vá vendo seus familiares que aqui foram enterrados.
A partir da conversa com os irmãos fui descobrindo coisas incríveis desse misterioso rapaz que andava mal vestido, meio que errante pelas ruas de Beli.
A primeira informação, na verdade, me veio de Dirceu, que foi seu colega na escola em S. Lúcia: "ele tinha uma letra incrivelmente bonita, uma verdadeira obra de arte".
Ali no cemitério e depois aqui em casa, onde recebi a família, fui descobrir que a nossa comunidade havia convivido, por esses últimos meses, com um verdadeiro gênio.
Antes de apresentar fortes transtornos psiquiátricos Reinaldo foi um brilhante técnico em informática, desenvolvia sistemas, montava e desmontava computadores, tinha mais de um curso superior, como o de Psicologia, que a própria família desconhecia, outro na poderosa FATEC-Faculdade Técnica de S. Paulo...
Era especialista em cortes de carne, era corretor de imóveis de luxo, tendo se especializado nisso.
Vá vendo outros cursos.
Mais esses...
E esses muitos outros numa pasta que a irmã Terezinha pegou hoje aqui na casa de Reinaldo.
A sua genialidade lhe permitia desenvolver peças, maquinários...



Foi empresário do ramo de marcenaria mas, alguns anos depois de tanta formação, passou a ter sérios transtornos, também o de estar sempre sendo perseguido, o que lhe causava muita angústia e sistematicamente saía errante pela vida, sempre procurando órgãos municipais de apoio social para se abrigar.
Dessa forma ele veio caminhando de S. Paulo até Belisário, há alguns meses.
Achei esse história muito diferente e decidi compartilhar com aqueles que com ele conviveram aqui e Beli.
Como canta Chico Buarque: "A dor da gente não sai no jornal".

Comentários

  1. Reinado um gênio mesmo!
    Que seja um exemplo ,cuidar da mente muito importante. Saudades!

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  2. Caramba, que história! Pois é, na verdade em geral sabemos muito pouco sobre as pessoas, seus potenciais e suas dores. Que Deus console a família enlutada

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  3. Interessantíssimo relato na vida deste homem. Também o vi algumas vezes por Belisario. Barba por fazer (assim como eu☺️), sempre bastante caladinho.

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  4. Uauu, um gênio mesmo. Isso mostra quão pouco conhecemos do nosso próximo. Parabéns Cleber pelo registro.

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  5. Quão extraordinária esta história, Cleber. Posso imaginar o sofrimento interior desta pessoa tão inteligente mas tão maltratada pela enfermidade mental!

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  6. Ouvi falar sobre Reinaldo ontem à noite, quando o dr. Cléber teve a bondade de vir á minha casa relatar tudo. Interessante que estava lendo o livro 'A Chave da Virada", dos psiquiatras Marcello Niek e Bruno Raso, que me foi deixado aqui em casa por alguém da Igreja Testemunhas de Jeová, da vizinha cidade de Rosário da Limeira. Lia justamente o ponto da necessidade do " descanso da mente. Podendo trabalhar, estudar, atender a muitos compromissos, mas dando tempo para a mente e o corpo descansar. O descanso recicla nosso tecido emocional sem o peso da obrigação, sem a carga emocional, sem a necessidade de cumprir
    com as relações". E mais, falam sobre a higiene do sono, como reparador de nossa mente. Minha solidariedade aos familiares de seu Reinaldo, que tão jovem se foi.


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