VAMOS APLAUDIR DE PÉ!

Isso mesmo! Palmas para a Dra. Maria Luisa Calais Luciano, filha de família muito querida em Belisário que acaba de se formar em Medicina, pela Universidade de Vassouras.

Um sonho do qual ela passou a se alimentar ainda criança.

Dê um zoom e leia.

Garra para isso ela herdou da vó, D. Josina Calais, um exemplo de mulher e de produtora rural para o nosso distrito.

Todos de pé, agora para apaludirem outra guerreira, sua mãe a Professora Irani Calais.

Leia tudo isso, um relato que pedi à Professora Irani, que é digna de todo o nosso respeito.

"Quando eu ainda era criança, meu sonho era ser professora. Morava em um lugar muito distante do povoado de Belisário, e todos os dias via passar na estrada uma professora que ia dar aula em uma escola rural de sala multisseriada em uma casa ainda mais distante. Não havia escola; uma família cedia a sala da casa deles para que pudesse ser o local de estudo.

Minha mãe dizia que era impossível eu me tornar professora, pois éramos muito pobres e não havia como estudar. Em Belisário, só havia ensino fundamental 1, que na época era apenas até a quarta série primária. E eu sempre insistia: "Mãe, eu quero estudar!"

Depois de um tempo, nos mudamos para outra casa, mais próxima de Belisário, onde até hoje meus pais moram. Eu tinha apenas 6 anos de idade; era janeiro, e em maio completaria 7 anos. Para ingressar na escola no primeiro ano, precisava já ter completado 7 anos. Eu insistia com minha mãe que queria ir para a escola.

Para se livrar da minha insistência, minha mãe foi à escola para tentar resolver a situação. Mas a diretora na época, Sueli Calais, não deixou. No entanto, a mãe de Sueli, Maria Amélia Calais, convenceu Sueli a me deixar frequentar a escola sem me matricular, pois havia poucos alunos. E eu fui toda feliz.

Nessa época não havia pré-escolar; tinha primeiro ano e depois primeiro ano adiantado, assim que diziam. Frequentei o primeiro ano e no final do ano já estava alfabetizada. Minha professora achou melhor que eu pulasse o primeiro ano adiantado e fosse direto para o segundo ano, o que não foi muito legal! Hoje entendo melhor; queimou etapas e isso me fez ter muita dificuldade em Matemática.

O tempo foi passando e eu sonhava em continuar estudando, sempre ouvindo "filho de pobre não pode estudar!" Quando fiz 9 anos, Alcininha, esposa do Kuelho, estava grávida e procurava uma menina para ser babá do bebê (Betiza). Perguntou à minha mãe se ela me deixaria ir morar na casa deles em Muriaé para trabalhar como babá.

Minha mãe me perguntou se eu queria ir. É claro que eu disse que sim. Nascia aí a possibilidade de eu poder estudar. Minha mãe pediu a ela que esperasse eu terminar a quarta série e também que a única condição exigida era que eu pudesse estudar, pois serviço em casa tinha muito.

Em fevereiro de 1978 fui para Muriaé. Foi um tempo difícil; não tinha condições financeiras para ir em casa, sentia muita saudade da minha família e tinha que me adaptar à vida na cidade, completamente diferente da vida rural: outros costumes, outra cultura.

Havia dias em que eu chorava muito, mas escondidinha de todos, pois tinha medo que minha mãe soubesse e me buscasse de volta e daí perderia a chance de estudar. Morei com essa família por 12 anos até me formar na faculdade Santa Marcelina em Muriaé (em Matemática). Escolhi logo a matéria em que tive tanta dificuldade quando criança! Pensava que precisava ensinar as crianças de modo concreto para que elas não tivessem a dificuldade que eu tive.

Voltei para Belisário e comecei a dar aulas. Depois me casei e vim morar em Limeira. Tive dois filhos: Mateus, que hoje é formado em engenharia de telecomunicações pela UFSJ e tem 29 anos; Maria Luísa, 25 anos, que acabou de se formar em Medicina pela Univassouras.

Mas a luta continuou para que eu pudesse formar meus filhos. Quando Mateus ainda estava com 17 anos cursando o ensino médio aqui em Limeira e Maria Luísa com 13 cursando o ensino fundamental também aqui em Limeira, fiquei viúva; meu chão caiu.

Maria Luísa desde criança já brincava de médica e sonhava em fazer Medicina. Mateus nunca foi de expressar seus interesses. Meu salário de professora e agora viúva tornava impossível pagar uma faculdade que custa aproximadamente 10 mil reais de mensalidade. Disse a ela: "Minha filha, estude muito; seu sonho se realizará somente se você conquistar uma excelente nota no Enem."

Mesmo assim, manter um filho fora de casa é muito caro. Mas farei o possível e impossível para te manter. Ela então quis fazer prova para o colégio de aplicação da UFV (Coluni) e conseguiu passar, graças a Deus! Foi morar em república com 15 anos.

Tempos difíceis! Coração de mãe quase não aguenta. Ficava imaginando o que minha mãe já tinha passado: noites sem dormir conversando com ela e tentando acalmá-la nos momentos de desespero por inúmeros motivos.

Tentou Enem no primeiro ano após a conclusão do ensino médio e não conseguiu; começou a se desesperar. E eu tentando acalmá-la: "Vamos tentar de novo; desistir é para os fracos!" Na segunda tentativa é que conseguiu.

Mudança para outra cidade, muita luta; saudades... tudo foi se ajeitando. Muito joelho no chão e oração. E agora graças a Deus minha filha se formou. Sou muito grata a Deus por ter nos abençoado: pela família pelo apoio e orações. Pelos amigos pela força.

Meu conselho a todos que tiverem um sonho: lute por ele! Confie em Deus e dê sempre o seu melhor. Não desanime nunca!"

PARABÉNS A TODOS DESSA FAMÍLIA! Uma carreira de muito sucesso para a Dra. Maria Luisa.