A ELE TODO O RESPEITO DO POVO DE BELISÁRIO

Nessa quarta encontrei esse elegante senhor na praça. Trata-se do Prof. Adelmir Perna, nosso amigo, residente na Comunidade de São Domingos. Ele é o nosso Juiz de Paz e veio fazer um casamento civil. Em conversa me deu uma excelente sugestão: fazer uma matéria com o Sr. João Rocha, Juiz de Paz que o antecedeu e que exerceu tal função por 40 anos.

Então fomos lá em sua casa nessa sexta.

Foi uma ótima conversa. Sr. João completará 90 anos nesse domingo e tem uma cabeça super lúcida, ótima memória e muito bom humor.

Vamos contar um pouco de história. João nasceu em Murici, uma comunidade de Miradouro, aqui perto de Belisário. Nasceu em 1932 e ainda menino veio pra cá, acompanhando o irmão Joaquim, que era o padeiro de Belisário.

Tinha muita vontade de ir em casa, mas temia que o irmão não deixasse. Certo dia,  a saudade bateu forte e partiu a pé para Murici e lá ficou por algum tempo, trabalhando na roça de café com a família.

Depois voltou para Belisário, junto com o pai, ajudando-o num botequim, onde hoje tem uma casa de Almir Toko, perto do Fernandinho. Exatamente aqui.

Era uma casa grande, mas João não gostava dessa função no botequim.

O pai decidiu trocar a casa por um sítio, perto da Fazenda da Onça. Hoje essa propriedade lhe pertence.

Uma nova virada em sua vida. Começou a acompanhar um amigo na função de dentista prático e aceitou o seu convite para mudar para Miradouro, onde o amigo abriu um consultório. Deveria ter uns 18 anos nessa época. Algum tempo depois o tal amigo, que já havia juntado algum dinheiro, perdeu tudo na roleta. Com isso, retornaram para Belisário sendo que o João nada recebia de salário. 

Foi estimulado por esse amigo a trabalhar por conta própria, começou a fazer isso em Monte Alverne, mas foi por pouco tempo. Nascia aí efetivamente um dentista.

Veio o casamento e recebeu uma cadeira e equipamentos de odontologia de sua sogra, que resolvera parar de trabalhar.  Nesse consultório,  perto do atual comércio do Edinho, onde morava a sua sogra. Ele deveria ter seus 22 anos, isso por volta de 1955, mais ou menos.

João fazia de tudo como dentista: obturações, tratamento de canal, prótese em geral, inclusive dentaduras...

O movimento estava fraco por aqui e assim, atendendo um convite de  um amigo, montou seu consultório na Usina da Fumaça e ali trabalhou por um período, mas era muito difícil lá permanecer e vir nos fins de semana a cavalo para casa. Voltou para Beli, em definitivo.

Eu lhe perguntei até quando ele trabalhou como dentista. Demorou alguns segundos para responder:  -  na verdade eu não parei. Até hoje atendo a alguma emergência.

Vamos conhecer o seu consultório.

Já há alguns anos adquiriu esse gabinete em Carangola. Veja que chique.

Aqui sua bancada para fazer as próteses.

Aproveitei para fazer uma revisão. Dr. Fernando Rogério que se cuide. Estou pensando em mudar de dentista.

Olha que legal isso. A prefeitura não podia contratá-lo, por ele não ter diploma de dentista. Ela o contratou numa função qualquer, mas trabalhava como dentista. Isso se deu entre 1977 e 1983.

E esse salário? Ganhava R$ 16.608,00 em 1982. Mas isso era muito pouco. Constatei que correspondia a meio salário mínimo. 

Da sua carteira tirou esse controle de aniversários dos filhos. Mirtes, uma artista plástica, autora de excelentes pinturas,  vai brigar comigo por divulgar a sua idade

Dentre as suas netas destaco Sara, uma expressão na música em Minas, como violinista da Orquestra de Ouro Preto. Essa foto foi de sua formatura no curso primário. Segundo o Sr. João, quando ela lhe deu a foto falou: "Vô, agora não preciso mais estudar!"

Sara vai se apresentar nessa noite de sexta, no programa do Faustão, na Band, junto com a Orquestra de Ouro Preto. Não vamos perder. Veja essa foto recente dela, publicada no site do Silvan Alves.

Mas até agora não falei de uma outra face marcante do Sr. João Henrique na nossa comunidade. Foi eleito Juiz de Paz, numa época em que esse cargo era preenchido através de eleição, e exerceu essa função por 40 anos. Era profundamente desgastante, como ele nos informou. Além dos casamentos, era mediador de frequentes conflitos, como o nome sugere, entre casais, partilha de terras entre familiares, brigas de vizinhos, e muito mais. E o salário? Essa função nunca foi remunerada.

Convidamos o Sr. João Rocha, ou João Henrique, como o chamam aqui, para estar presente na terça, no encontro do Projeto Mente Ativa, para compartilhar sua história com aquela turminha.