CONTINUANDO O GIRO EM PARANAPIACABA

Estou partindo do princípio de que você leu a matéria anterior, mostrando a nossa ida a Paranapiacaba, um distrito  de Santo André, onde está inserida uma vila ferroviária para residência dos empregados da companhia inglesa de trens São Paulo Railway, vila essa criada para servir de base à construção da ferrovia ligando o interior paulista a Santos, principalmente para transportar café e passageiros e ser também um centro de controle operacional.
Essa turista se vestiu com os trajes ingleses.
Para uma sessão de fotos. Turistar é isso. Fazer coisas até aparentemente ridículas, mas ser feliz, longe dos olhos dos críticos de plantão.
No centro de apoio ao turista esses equipamentos. O sistema de sinalização de trens hoje é moderno. O centro de controle operacional identifica a composição pelo contato nos trilhos e possivelmente há coisas mais modernas. Os colegas Abbês (JF) e Luiz Carlos (Salvador) poderiam explicar melhor isso. Mas esse sistema eu conheci num pedaço de meu trecho, entre Joaquim Murtinho e Itabirito. O "estafe", em que o agente de uma estação A libera o bastão metálico para o maquinista, autorizando a partida do trem na direção da estação B. Um sistema de "magneto" impede que outro bastão seja liberado da máquina, enquanto esse que saiu da estação A não for colocado na máquina, na estação B. Isso garante que um trem nunca bate de frente com outro.
Sistemas modernos costumam falhar.
Vamos dar um giro pela vila e almoçar.
Alimentação não é o forte desse programa. O foco está mais no preço barato, tipo 20,00 para self service livre. É claro que assim o serviço  e a qualidade caem. O Restaurante da Zilda é melhor, mas tem uma forma de atendimento meio burocrática.
Mais um pouquinho de história ferroviária. Um metrô ou uma litorina não tem problema de posicionamento das cabines do maquinista, já que ficam em ambas as extremidades. O maquinista troca de cabine na volta da viagem.
A locomotiva a vapor já não tem isso. Para maior segurança, para não se deslocar de ré, embora isso seja possível, há as "rotundas", um girador de locomotivas.
A placa explica que nesse pau, entre a vila e o pátio ferroviário,  eram colocados os avisos de missas e anúncios de mortes e outros recados.
Aqui o mercado, criado em 1899. Atualmente é um espaço de feiras de artesanato e comidas locais.
Fala-se muito em cambuci por aqui. É essa fruta ai, meio-amarga, mas suave.
Continuamos subindo.


Mirian e eu viajamos no tempo nessa casa.
Ela guarda semelhanças com uma onde moramos, em Conselheiro Lafaiete, quando eu era Engenheiro Residente naquela cidade.
Eu falo e provo. Olha aí, por volta de 1983, com minha filha Bianca com cerca de 3 aninhos. A casa era muuuuuito grande. As crianças se perdiam lá dentro.
Já mostrei essa foto na outra matéria. Vamos subir até lá.
Um muito bem montado museu, com uma guia dando todas as explicações em cada ambiente.
Da janela de um quarto essa vista.  Paranapiacaba na língua tupi significa “lugar de onde se vê o mar". Com o dia mais claro se avista Cubatão daqui.

Quarto do casal.

Eu lhe prometi que voltaria a falar sobre isso, quando lhe mostrei um lá na oficina. Um carrinho que se deslocava sobre os trilhos, para o pessoal da manutenção. A guia me tirou uma grande dúvida: como se fazia a propulsão disso, ou seja: como deslocá-lo em rampa tão íngreme? Resposta simples: ele somente era usado para descer na linha e subia de volta dentro de um vagão. Só usava-se freio e possivelmente uma vara para deslocamento no plano. 
E tinha outra utilidade, segundo ela, a de levar a parteira para atender a mulher em trabalho de parto ao longo da linha. 

O que há de errado nesse relógio?
Segundo a guia, o futebol, que veio para o Brasil através dos ingleses, teve aqui o seu primeiro campo marcado com as medidas oficiais. O Corinthians , que foi fundado depois do time dos ferroviários locais, aqui esteve e perdeu de 2 X 1. Naquela época o Timão certamente não comprava juízes.
Mas como granberiense sou obrigado a contestar esse dado.  Consta que Charles Miller o pai do futebol brasileiro, trouxe o futebol para o Brasil em 1894, numa partida entre  a São Paulo Railway e  a São Paulo Gás Company com o placar de 4 X 2 favorável aos ferroviários, em 14 de abril de 1895, em Paranapiacaba, sendo esse o marco do primeiro jogo de futebol disputado no Brasil.
Porém, os registros no Instituto Granbery da Igreja Metodista, em Juiz de Fora tem documentos que em 1893- ou seja, dois anos antes do jogo registrado por Miller, dois times de alunos disputaram uma partida nas dependências da escola.

A guia identifica vários símbolos maçônicos espalhados pela casa.  Certamente que da Maçonaria Escocesa, reforço eu, já que engenheiro escocês morou nessa casa e tudo indica que o Barão de Mauá, que obteve junto ao Imperador a concessão para sua construção dessa e ferrovia, tenha se iniciado na Maçonaria, através dos engenheiros escoceses.


Final da tarde, vamos começar a descer.
Um grupo passou com essas camisas da Missão Caleb, da Igreja Adventista, que mobiliza jovens para ações sociais. Eles estão realizando uma aqui na vila, junto com uma equipe de Santo André.
Grande figura o Felipe, que nos levou de carro de volta até a estação. Também é guia de turismo e assim o papo com ele foi muito agradável. Vai ler a matéria no blog.

A campainha começa a soar, baixando as canelas para os carros, na passagem de nível, para o nosso trem que está chegando.
Perto das duas casas que moramos em Lafaiete tinha esse equipamento, que tocava a noite inteira. Talvez ai a explicação para o fato de que em 4 anos tivemos 3 filhos.
Olha aí, D. Nina, a cidade onde você trouxe jovens de Belisário para conhecer uma indústria de gás! Tem muitos belisarienses que moram aqui.
Ufa, acabei! Esse passeio rendeu assunto.
Opa! E o que está errado naquele relógio no Museu? Veja como está escrito o número IV. A guia deu alguns possíveis motivos. Dê uma pesquisada nisso e depois você me fala.

Comentários

  1. Parece que havia a escrita de quatro iiii, no algarismo romano, nº transformado depois em IV, para o núero arábico 4, não é, sr. Engenheiro? O dito carrinho a gente chamava de "trolley", impulsionado por uma vara. Já o " Automóvel de linha" era mais veloz e parecia um fordeco 29. Isso a gente via muito frequentemente em Dom Lara, indo para ou vindo de Caratinga. E a meninada ia levar macaquinhos muriquis pra tentar vender aos viajantes, aqueles passageiros de guardapó branco. Quando alguém conseguia vender, pagava pra nós o café com leite com brevidade de polvilho da janela da estação, negócio da mulher do chefe. Um fazendeiro protetor desses animais acabou com isso, hoje por lá tem a ESTAÇÃO ECOLÓGICA FELICIANO MIGUEL ABDALA, em nome dele. O trem também deixou de existir, mas para mim não. Cléber, que matérias você inventa. Cada uma melhor que a outra, doutor. Obrigadíssimos os seus fans. Abraços.

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  2. 1 Hipótese: Estética!
    A primeira hipótese pode ter sido levada em consideração por conta dos antigos relojoeiros que acreditavam que o número IIII deixava o relógio esteticamente mais bonito e equilibrado. Se observarmos o mostrador do relógio romano os números ficam representados dessa forma: do 1 ao 4: I, II, III, IIII, do 5 ao 8: V,VI,VII,VIII e do 9 ao 12: IX, X, XI, XII, o que gera uma excelente simetria!



    2 Hipótese: Para evitar confusão!
    Conta-se que o maquinista de uma estação ferroviária olhou para o relógio e se confundiu quando o I do IV teria sido coberto pelo ponteiro de horas, assim ele saiu da estação 1 hora antes do horário previsto, quando vinha outro trem na mesma linha sentido contrário e os dois colidiram brutalmente. Desde então os relógios das estações foram trocados sendo usado o IIII para não haver mais este tipo de confusão.



    3 Hipótese: Origem religiosa!
    O uso do IIII ter continuado pode ter origem religiosa. Os algarismos romanos são formados por letras e a combinação delas podem também significar uma abreviação. Entre os deuses romanos pagãos, o deus do dia, era grafado em latim como IVPPITER (Júpiter). Segundo teoria, para não utilizar as iniciais de um deus pagão em igrejas Cristãs, foi optado por manter a velha forma IIII.

    As 3 histórias são muito curiosas sobre o numero 4 nos relógios com números romanos e não sabemos ao certo qual delas é real, ou talvez, todas elas façam sentido!

    Hoje, existem relógios com os dois tipos de números romanos que decoram e contam histórias, afinal, são muitas hipóteses que nos fazem viajar no tempo e imaginar o que e o porquê disso!

    https://www.carrodemola.com.br/blog/relogios-com-numeros-romanos/

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