MARIANA II

Uma noite muito mal dormida, com aquele sentimento de que a TV irá anunciar, de madrugada, que não foi bem assim. Os 400 empregados da Vale que estavam trabalhando nas áreas administrativas e refeitório foram todos salvos. 
Mas, essa notícia não chegou e parece que não vai mesmo chegar. Mais uma vez, a nossa Minas Gerais vai entrar para o cenário mundial de forma extremamente negativa. O filme de terror Mariana reaparece em cartaz: Mariana II.
Muito duro para uma família sequer ter a oportunidade de ter o corpo de um de seus membros para sepultar.
O impacto ambiental será bem menor, mas o número de vítimas deve ser assustadoramente maior.
Vinte anos de minha vida profissional foi trabalhando na ferrovia, transportando, principalmente minério e parte disso, diretamente no Vale do Paraopeba, com frequente contato com esse pontos atingidos: Mário Campos, Sarzedo e Brumadinho. Muito ruim assistir a tudo isso.
E agora? Vamos continuar expandindo a extração de minério? Algum técnico vai assinar autorização para novas barragens de contenção? Vai correr risco também de autorizar obras de "
descomissionamento" nas existentes e desativadas como essa do Córrego do Feijão?
O nosso combalido Estado de Minas suporta encerrar as atividades mineradoras? Qual o tempo necessário para uma transição do negócio "mineração" para outros mais "limpos", como o turismo, moveleiro, calçadista,  confecção...
A legislação que regulamenta  construção não seria a responsável por tudo isso, devendo ser atualizadas no sentido de serem mais rígida no que diz respeito à segurança. Minas tem pelo menos 400 barragens, sendo que 37 delas são de rejeitos e não têm garantia de estabilidade, segundo informou a Associação dos Observadores do Meio Ambiente de Minas Gerais – uma ONG que acompanha os avanços da legislação sobre o tema. Ou seja: nada nos livra de um Marina III, pelo andar da carruagem.
Parabéns àqueles que sabem prontamente essas respostas e já as tem postado nas redes sociais. Reconheço que sou muito limitado. 
O quadro na região atingida é desesperador. O Rev. Walas Vieira Silva, Pastor da Primeira Igreja Presbiteriana de Brumadinho, destacou que muitas pessoas da região não conseguem contato com os familiares. “Em nossa igreja e cidade, bem como na região como as cidades de Sarzedo e Mário Campos, muitas famílias estão sem contato com parentes que trabalhavam na Vale. Sabemos que a Faculdade Asa é a base de chegada de resgatados e corpos.  Não há acesso à mesma.

Mais uma vez peço desculpas por não saber apresentar culpados, determinar penas  e soluções para o problema. Só sei que nada sei e que e tudo muito triste.  
Sobre a matéria o belisariense Dr. Dárcio Calais (BH) comentou:

Compreendo e participo do profundo sentimento de tristeza do ilustre Blogueiro Eng. Cleber. Assim como ele, também tenho ligações afetivas com o Grupo Vale, onde trabalhei durante 1/4 de século. Depois de aposentado, já trabalhando como autônomo, fui representante da FIEMG nas URCs (Unidade Reginal Colegiada) de Diamantina e Montes Claros. Considero-me, portanto, "testemunha ocular/participativa" dos rigores que são observados num processo de licenciamento ambiental, principalmente quando e trata de atividades minerárias. Arrisco-me a responder um pertinente questionamento colocado pelo ilustre Editor de EMBELISÁRIO: Não, Cleber! Nosso combalido estado não suportaria o encerramento das atividades mineradoras. Não disponho (aqui agora) de dados estatísticos, mas, sabemos - intuitivamente - que a economia seria drasticamente afetada. O que fazer então? A resposta está no próprio texto acima: maior rigor na legislação que regulamenta a construção de barragens. Mas, conforme declaração do presidente da Vale, a barragem que se rompeu fora vistoriada por uma firma alemã em setembro de 2018 e o respectivo laudo técnico não indicou risco alto iminente. Então arrisco mais um palpite: o rompimento da barragem de Brumadinho resultou de algum fenômeno (ainda) desconhecido da engenharia. Uma referência: Quando o avião a jato foi introduzido na aviação comercial (Comet inglês), as aeronaves simplesmente se desintegravam no ar. Os engenheiros levaram algum tempo para descobrir que os acidentes eram causadas pela fadiga mecânica do material, pouco conhecida na época. 
  

Comentários

  1. Compreendo e participo do profundo sentimento de tristeza do ilustre Blogueiro Eng. Cleber. Assim como ele, também tenho ligações afetivas com o Grupo Vale, onde trabalhei durante 1/4 de século. Depois de aposentado, já trabalhando como autônomo, fui representante da FIEMG nas URCs (Unidade Reginal Colegiada) de Diamantina e Montes Claros. Considero-me, portanto, "testemunha ocular/participativa" dos rigores que são observados num processo de licenciamento ambiental,
    principalmente quando e trata de atividades minerárias. Arrisco-me a responder um pertinente questionamento colocado pelo ilustre Editor de EMBELISÁRIO: Não, Cleber. Nosso combalido estado não suportaria o encerramento das atividades mineradoras. Não disponho (aqui agora) de dados estatísticos, mas, sabemos - intuitivamente - que a economia seria drasticamente afetada. O que fazer então? A resposta está no próprio texto acima: maior rigor na legislação que regulamenta a construção de barragens. Mas, conforme declaração do presidente da Vale, a barragem que se rompeu fora vistoriada por uma firma alemã em setembro de 2018 e o respectivo laudo técnico não indicou risco alto iminente. Então arrisco mais um palpite: o rompimento da barragem de Brumadinho resultou de algum fenômeno (ainda) desconhecido da engenharia. Um referência: Quando o avião a jato foi introduzido na aviação comercial (Comet inglês), as aeronaves simplesmente se desintegravam no ar. Os engenheiros levaram algum tempo para descobrir que os acidentes eram causadas pela fadiga mecânica do material, pouco conhecida na ápoca.

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  2. Poucas vezes o nome do estado foi tão tristemente profético... As Minas Gerais todas ameaçando romper seus aterros e barreiras da barbárie compulsiva preocupada apenas em extrair sem nada preservar...

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  3. Acabamos de ouvir do presidente da Vale que a empresa vai deixar de minerar por um período aproximado de três anos, mas vai conservar cerca de 5.000 empregados no remanejamento das suas barragens em todo o Brasil. Falou em aproveitar os elementos sólidos na fabricação de tijolos. Fala-se muito em SUSTENTABILIDADE, ou seja o aproveitamento de desperdiços e sua comercializa-
    ção. Já que se trata de elementos da terra, não aproveitáveis para a agro-pecuária, por que não utilizá-los na construção de leitos de estradas antes de receberem o asfalto , ou se ferrovias, antes de receberem a camada de brita e os dormentes? Necessitamos tanto de estradas e também de aeroportos. No caso de Belisário, com seu potencial turístico, bastariam suas águas claras e clima ameno, sua bela participação no Parque Estadual do Brigadeiro, povo hospitaleiro, culinária de primeira, vocação para as artes para justificar a tão sonhada emancipação, estradas asfaltadas e um aeroporto! Certamente essa decisão da Vale abrirá
    possibilidade para esse nosso glorioso destino.

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